Simpósios Temáticos

ST01 – Caminhos e Descaminhos da Educação: Mulheres, História e Resistências

Coordenador: Jailton Alves de Oliveira (UFES)

Resumo: A comunidade científica tem sido cada vez agraciada com resultados de trabalhos comprobatórios da participação efetiva das mulheres em âmbitos variados, tais como economia, direito, política, educação, religião, esporte, entre outros tantos. Movimento que faz perceber a participação ativa delas, seja produzindo acontecimentos, subvertendo diretrizes ou mesmo resistindo. Portanto, seres protagonistas e não espectadoras da história. Ademais, o surgimento de abordagens novas tem contribuído para o alargamento dos estudos, análises, fomento de novas perspectivas, utilização de fontes originais e diversas e um diálogo interdisciplinar. Ao direcionarmos as lentes para a História da Educação, verificamos também um extenso movimento feminino em espaços formais e não formais de educação. Focalizando especificamente os Oitocentos, produzidos especialmente pelo gênero masculino, os registros que nos chegam são de sujeitos femininos imbricados com jogos de saber e poder. Mesmo rarefeitas, encontradas em periódicos, processos criminais, diários ou em registros escolares, superando as poeiras e traças de arquivos, as “vozes” femininas disponibilizadas contribuem para a percepção de que proporcionaram caminhos e descaminhos em se tratando da temática educacional. Mas, mesmo com todos esses chamados, ainda há muito a ser feito para que a invisibilidade feminina se torne menos presente. Dessa forma, este Simpósio Temático objetiva reunir pesquisadores e pesquisadoras de áreas diversas que contemplem estudos envolvidos neste tema, possibilitando, assim, ser espaço um de diálogo, divulgação de resultados, amplificação desses, bem como a troca de experiências. Nesse sentido, os trabalhos precisam definir o que estão chamando de mulheres, ou seja, o que os discursos diversos intentaram definir como sendo “mulher”. Em seguida, atentarem para o fato da produção de práticas educativas - experiências, táticas, estratégias (GORE, 1994) – direcionadas para o público feminino. Para tanto, serão considerados trabalhos imbricados com ações, tensões e resistências entre: História, educação e mulheres; relações entre cidade, escola e a presença feminina; práticas educacionais, sua utilização e resultados no cotidiano das mulheres; a presença do Estado na educação das mulheres; discursos médicos, jurídico-judiciários e outros na tentativa de (re) educar o feminino; lutas e resistências femininas na História da Educação; feminismo e educação; as mulheres nos espaços formais e não formais de educação; História da educação e gênero; diversidades e a educação; educação e escravidão; elas nas escolas rurais, ordens religiosas e outras. Essas são algumas das propostas a serem encaminhadas, e que deverão ser acompanhadas de rigor teórico-metodológico, das fontes e escrita.

Referências:
BARTHES, ROLAND. O Prazer do Texto. São Paulo: Editora perspectiva, 1987
DUBY, Georges; PERROT, Michelle (Orgs). História das Mulheres no Ocidente. Porto: Edições Afrontamento, 1991.
FARIA FILHO, Luciano Mendes de Faria (org.) Pensadores sociais e história da educação. São Paulo: Ed. Campus, 2003. 
MIGNOT, Ana Chrystina; ALVES, Claudia (Orgs.). História e Historiografia da Educação Ibero-Americana. Projetos, sujeitos e práticas. Rio de janeiro: Quartet-Faperj, 2013.
GONDRA, José G. & SCHUELER, Alessandra Frota Martinez de. Educação, poder e sociedade no império brasileiro. São Paulo: Cortez Editora, 2008. 
FONSECA, Thais Nívea de Lima e VEIGA, Cynthia Creive. História e historiografia da educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
HAHNER, June. A emancipação do sexo feminino: A luta da mulher, 1850-1940. Ed. Mulheres, 2003. 
LEITE, Míriam Moreira (Org). A condição feminina no Rio de Janeiro do século XIX. Antologias de textos de viajantes estrangeiros. São Paulo: HUCITEC, 1984. 
LOURO, Guaraci Lopes. Gênero, sexualidade e educação. Uma perspectiva pós-estruturalista. 6ª ed. Editora Vozes, 1997.
MARSHALL, James. Governamentalidade e educação liberal. In. SILVA, Tomaz Tadeu da (Org). O sujeito da educação. Estudos foucautianos. 2ª ed. Petrópolis: Ed. Vozes, 1995.

 

ST02 – Imprensa, Partidos e Eleições no Oitocentos

Coordenadoras: Karulliny Silverol Siqueira (UFES) e Kátia Sausen da Motta (UFES)

Resumo: Partidos e eleições são temas de longa tradição no campo da História Política do Brasil. A compreensão sobre o assunto à luz de recentes estudos e abordagens tem evidenciado o papel desses fenômenos na formatação de culturas políticas. Em consonância com as tendências historiográficas dos últimos decênios, que indagam as interpretações generalizantes e, por vezes, reducionistas, objetiva-se com o simpósio examinar a dinâmica partidária e eleitoral no decorrer do século XIX a partir de novas reflexões teóricas e empíricas que permitem pensar a prática e o pensamento político no país e suas transformações ao longo do Oitocentos. O enfoque adotado não se limita apenas ao aspecto institucional, mas abrange também a dinâmica política dos fenômenos em suas múltiplas dimensões e perspectivas. Abre-se, assim, uma série de problemas ligados as práticas políticas formais e informais e ao pensamento político, destacando o uso das variadas linguagens e matrizes intelectuais no contexto oitocentista. Pretende-se, desta forma, abarcar as pesquisas que se dedicam às discussões sobre a cidadania, a circulação de ideias, a atuação das elites e grupos, o funcionamento do sistema representativo, o direito de voto, a construção legislativa, as disputas e conflitos políticos, as propagandas e estratégias eleitorais, os espaços de sociabilidades e a formulação de diferentes culturas políticas. A proposta é pensada de forma a incorporar pesquisas dos diversos níveis acadêmicos que tratam a temática e as questões citadas tanto no âmbito da Corte como a partir de uma perspectiva provincial, visando destacar a discussão acerca da política imperial também pelo viés local. Portanto, o simpósio pretende-se espaço de discussão visando a ampliação e a diversificação dos olhares sobre as culturas políticas, performances partidárias e eleitorais de forma a compreender parte da complexa realidade do país no século XIX.

Referências:
ANNINO, Antonio (Coord.). Historia de las elecciones en Iberoamérica, siglo XIX: de la formación del espacio político nacional. Argentina: Fondo de Cultura Económica, 1995.
BASILE, Marcelo Otávio. O Império em construção: projetos de Brasil e ação política na Corte regencial. [Tese de Doutorado] - Programa de Pós-Graduação em História, UFRJ, Rio de Janeiro, 2004.
CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: a elite política imperial. Teatro de Sombras: a política imperial. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
CARVALHO, José Murilo; CAMPOS, Adriana (Org.). Perspectivas da Cidadania no Brasil Império. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
GRAHAM, Richard. Clientelismo e política no Brasil do século XIX. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1997.
NEEDELL, Jeffrey. D. The Conservatices, the State, and Slavery in the Brazilian Monarchy, 1831-1871. Stanford: Stanford University Press, 2006.
NEVES, Lucia Maria Bastos Pereira. Corcundas e Constitucionais: a cultura da independência (1820-1822). Rio de Janeiro: Revan, 2003.
MATTOS, Ilmar Rohloff de. O tempo Saquarema: a formação do Estado Imperial. Rio de Janeiro: Access, 1994.
RIBEIRO, Gladys Sabina; FERREIRA, Tânia M. T. B. (Org.). Linguagens e práticas da cidadania no século XIX. São Paulo: Alameda, 2010.
SABATO, Hilda. Ciudadanía Política y Formácion de las naciones: perspectivas históricas de América Latina. México: Fondo de Cultura Económica, 1997.

 

ST03 – O protagonismo indígena na formação do Estado Nacional brasileiro no século XIX

Coordenadora: Mariana Albuquerque Dantas (UFRPE)

Resumo: A proposta deste simpósio temático está inserida num campo recente de estudos sobre a participação efetiva de indígenas nos variados processos políticos ocorridos ao longo do século XIX. Os trabalhos se centraram na extinção das aldeias e na reelaboração de identidades indígenas, bem como nas interpretações sobre legislações fundiária e indigenista em relação com a formação do Estado nacional brasileiro no Oitocentos. Os autores desses estudos têm em comum a preocupação com o protagonismo de indígenas na vida política e na construção histórica da região que habitavam, bem como a sua inserção ativa nas disputas com câmaras municipais e proprietários não índios vizinhos com o objetivo de evitar mais invasões em seus territórios e mesmo adiar o processo de extinção das aldeias. A Lei de Terras de 1850, e suas regulamentações, e a lei indigenista de caráter nacional, o Decreto nº 426 de 1845, mais conhecido como Regulamento das Missões, foram tomados como bases para as análises sobre o problema das terras coletivas das aldeias, deixando de lado o tema do uso da mão de obra indígena. Nos últimos anos, o empenho de indígenas em propriedades vizinhas aos aldeamentos, em obras públicas, em serviços militares e públicos, como os correios, tem chamado a atenção de pesquisadores, que passaram a tratar da importância da força de trabalho indígena em várias regiões do Império. Particularmente, o serviço militar de indígenas tem suscitado pesquisas mais específicas, que abordam o seu recrutamento forçado para fazer o policiamento de vilas, a sua inserção na Guarda Nacional, o seu envolvimento nas revoltas políticas da primeira metade do século XIX e na Guerra do Paraguai. Tais estudos, de maneira geral, apresentam as iniciativas de lideranças e grupos indígenas em participar de conflitos armados com o intuito de defender seus interesses e atender as suas expectativas sobre a administração das terras das aldeias. Assim, se estabelece uma crítica à perspectiva historiográfica que percebia essa população como completamente submissa às ordens e às vontades dos líderes não indígenas dos movimentos armados. Os termos de negociação, de participação e de estabelecimento de rivalidades entre índios e não índios passam a ser de fundamental importância para a compreensão das revoltas e guerras, bem como das formas articuladas pelos indígenas para relacionar seus interesses aos projetos políticos em debate e, assim, projetar a sua participação em um panorama mais amplo. Relacionando os conflitos políticos e armados locais e regionais às disputas nacionais, em um jogo de escalas nos termos propostos por Jacques Revel, vem se tornando possível demonstrar a participação efetiva das populações indígenas na formação do Estado nacional brasileiro no século XIX. Diante do exposto, este simpósio temático tem o objetivo de proporcionar um espaço de debate sobre a produção de pesquisadores da temática indígena, que trabalhem com diferentes situações históricas ao longo do século XIX no Brasil.

Referências:
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Metamorfoses indígenas: identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. 2ª ed. Rio de Janeiro: FGV editora, 2013.
CUNHA, Manuela Carneiro da (org.). Legislação indigenista no século XIX: uma compilação: 1808-1889. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Comissão Pró-índio de São Paulo, 1992.
DANTAS, Mariana Albuquerque. Dimensões da participação política indígena: Estado nacional e revoltas em Pernambuco e Alagoas, 1817-1848. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2018.
DANTAS, Mônica Duarte (Org.). Revoltas, motins, revoluções: homens livres pobres e libertos no Brasil do século XIX. São Paulo: Alameda, 2011
MOREIRA, Vânia Losada. “A serviço do império e da nação: trabalho indígena e fronteiras étnicas no Espírito Santo (1822-1860)”. In: Anos 90. Porto Alegre, v. 17, n. 31, 2010, pp. 13-55.
OLIVEIRA, João Pacheco de (org.). A presença indígena no Nordeste: processos de territorialização, modos de reconhecimento e regimes de memória. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2011.
COSTA, João Paulo Peixoto. Disciplina e invenção: civilização e cotidiano indígena no Ceará (1812-1820). Teresina: EDUFPI, 2015.
REVEL, Jacques (org.). Jogos de escala: a experiência da microanálise. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1998.
SAMPAIO, Patrícia. “Política indigenista no Brasil imperial”. In: GRINBERG, Keila. SALLES, Ricardo (orgs.). O Brasil Imperial, volume I: 1808-1831. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009, pp. 175-206.
SILVA, Edson Hely. O Lugar do Índio. Conflitos, esbulhos de terras e resistência indígena no século XIX: o caso de Escada-PE (1860-1880). Dissertação (mestrado)-Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 1995.

 

ST04 – Reflexões Imperiais: escritos e ações político-administrativas no mundo Luso-Brasílico (1750-1822)

Coordenadoras: Marieta Pinheiro de Carvalho (UNIVERSO) e Nívia Pombo (UERJ)

Resumo: A descoberta do ouro no final do século XVII e a perda progressiva dos domínios do Oriente, reorientaram a preocupação da Coroa com os domínios da América no Setecentos. Em 1736, ano que D. João V decreta a criação das secretarias de Estado, o célebre estadista D. Luís da Cunha asseverou “as conquistas, que supus ser um acessório de Portugal, eu as tenho pelo seu principal e ainda garantes da sua conservação, principalmente as do Brasil”. A herança dessa concepção imperial se fez sentir com mais propriedade após 1750, como tem destacado historiadores de distintas visões teóricas, como Fernando A. Novais, Andrée Mansuy Diniz-Silva, Jorge Pedreira, entre outros. Dentro dessa perspectiva, a ascensão de d. José I (1750-1777) ao poder pode ser vista como o início de uma longa fase de transformações que ultrapassam o seu reinado e se estendem pelos conseguintes (d. Maria I - 1777-1816); d. João VI - 1816-1826). O sentido geral das mudanças realizadas era promover reformas para assegurar a sobrevivência do reino luso no equilíbrio de poderes das monarquias europeias, tendo a América portuguesa um papel fundamental nesse processo. O objetivo deste simpósio temático é contemplar discussões que perpassem a conjuntura compreendida entre 1750 a 1822, e que tenham como propósito apresentar trabalhos concernentes ao mundo luso-brasílico, num contexto marcado por transformações no jogo de forças das potências europeias, e que se fizeram sentir internamente nas relações entre Portugal e sua principal colônia. De um modo geral, propomos agregar pesquisas que reflitam sobre os diferentes aspectos que marcaram esse amplo período, sejam os de ordem econômica, política ou social nos quadros do reformismo ilustrado. O ST acolhe também estudos que reflitam sobre: os desafios da manutenção do império colonial português frente as instabilidades político-diplomáticas da virada do século XVIII para o XIX; o papel do reformismo ilustrado como chave interpretativa das ações metropolitanas com relação ao espaço colonial; a comunicação política entre as instituições centrais e as instâncias locais; as resistências das elites locais frente aos interesses metropolitanos; as viagens filosóficas realizadas pelo território da América portuguesa e o memorialismo. De igual maneira, serão bem-vindos trabalhos que contemplem a atuação de personagens que tiveram um papel fundamental de refletir, em seus escritos, sobre as questões caras ao império nesse período; as ações de governadores ou de agentes coloniais com respostas aos problemas do governar; o papel das Secretarias de Estado – com destaque para o Erário Régio e a Secretaria de Estado da Marinha e Domínios do Ultramar – que exerceram por meio dos seus funcionários ações na elaboração e delineamento de novas políticas coloniais para as diferentes partes da América portuguesa. Acreditamos, por fim, que a oportunidade de reunir pesquisas que analisem as práticas e as reflexões que conformaram a experiência colonial luso-brasílica, permitirá a formação de um rico espaço de trocas teóricas e metodológicas para a problematização dos estudos que dedicam atenção para o recorte aqui proposto.

Referências:
ALEXANDRE, Valentim. Os sentidos do Império: questão nacional e questão colonial na Crise do Antigo Regime Português. Lisboa: Edições Afrontamento, 1993.
BETHENCOURT, Francisco e CHAUDHURI, Kirti (dir.). História da Expansão portuguesa: o Brasil na Balança do Império (1697-1808). V. 3. Espanha: Círculo de Leitores, 1998.
CARDOSO, José Luís; CUNHA, Alexandre Mendes. “Discurso econômico e política colonial no Império Luso-Brasileiro (1750-1808)”. In.: Revista Tempo, vol.31, p.65-88.
CARVALHO, Marieta Pinheiro. Os sentidos da Administração: oficiais e ação política no Rio de Janeiro (1808-1821). São Paulo: Paco Editorial, 2018.
FRAGOSO, João & GOUVEIA, Maria de Fátima. O Brasil colonial. 1720-1821. 1ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.
MAXWELL, Kenneth. “A geração de 1790 e a ideia de império luso-brasileiro”. In: ___. Chocolate, piratas e outros malandros. Ensaios tropicais. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999, p. 157-207. 
NOVAIS, Fernando. “O Reformismo ilustrado luso-brasileiro: alguns aspectos”. In: ___. Aproximações: estudos de história e historiografia. São Paulo: Cosac Naify, 2005, p. 167-181.
POMBO, Nívia. O Palácio de Queluz e o mundo ultramarino: circuitos ilustrados. Portugal, Brasil e Angola, 1796-1803. Niterói: UFF, 2013. (tese de doutorado)
SILVA, Andrée Mansuy Diniz. Portugal e o Brasil: a reorganização do Império, 1750-1808. In: Bethell, Leslie (org.). História da América Latina: a América Latina colonial. São Paulo/Brasília: Edusp/Funag, 1997. v. 1, p. 477-518.
SOUZA, Laura de Mello e. O sol e a sobra: política e administração na América portuguesa no século XVIII. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

 

ST05 – Escravidão e pós-abolição: sociabilidades, relações de trabalho e estratégias de mobilidade social    

Coordenadora: Rafaela Domingos Lago Nunes (FACULDADE NOVO MILÊNIO)

Resumo: A abordagem da historiografia da escravidão das décadas de 1970 e 1980, que havia transferido a ênfase das pesquisas para o papel social dos próprios escravos, apresentou evidências de que os cativos construíram amplas e sólidas redes de relações, e que suas principais aspirações eram o acesso à terra, à formação de famílias e a certo grau de autonomia na vida cotidiana. Pesquisas na área promoveram também uma formulação diferenciada do problema do pós-abolição. Esta mudança de perspectiva implicou numa abordagem das sociedades pós-emancipação mais centrada na experiência dos libertos, no estudo de suas aspirações e de suas atitudes em face do processo emancipacionista e dos novos contextos sociais por ele produzidos. Este simpósio pretende, portanto, abrir espaço para discussão de pesquisas que tratem, sobretudo, da ação dos escravos no século XIX – que negociavam, adquiriam família, possuíam uma vida cultural e comunitária –, bem como das atitudes dos libertos, que teriam interferido nos processos de reconfiguração de relações sociais e de poder que se seguiram à abolição do cativeiro.

Referências:
COSTA. Carlos Eduardo C. da. De Pé Calçado: família, trabalho e migração na Baixada Fluminense, RJ (1888-1940. Tese (Doutorado em História). Rio de Janeiro: IFCS, 2013.
FLORENTINO, Manolo Garcia; GÓES, José Roberto. A Paz das Senzalas: famílias escravas e tráfico atlântico, Rio de Janeiro, c. 1790-c.1850. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.
FRAGA FILHO, Walter. Encruzilhadas da liberdade: histórias e trajetórias de escravos libertos na Bahia, 1870-1910. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, 2004.
GONÇALVES, Andréa Lisly. As margens da liberdade: estudo sobre a prática de alforrias em Minas colonial e provincial. Belo Horizonte: Fino Traço, 2011.
MARQUES, Leonardo. Por aí e por muito longe: dívidas, migrações e os libertos de 1888. Rio de Janeiro: Apicuri, 2011.
MATTOS, Hebe Maria; RIOS, Ana Maria. O pós-abolição como problema histórico: balanços e perspectivas. TOPOI, v. 5, n. 8. 2004, p. 170-198.
MERLO, Patrícia Maria da Silva. O nó e o ninho: estudo sobre a família escrava em Vitória, Espírito Santo, 1800-1871. Vitória: EDUFES, 2018. 
RIOS, Ana Lugão; MATTOS, Hebe. Memórias do cativeiro: família, trabalho e cidadania no pós-abolição. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2005.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O Espetáculo das Raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
SLENES, Robert. Na senzala uma flor: esperanças e recordações na formação da família escrava, século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. 

 

ST06 – Cultura jurídica e formação institucional no Brasil: justiça, poder e economia na formação do Estado  

Coordenadora: Adriana Pereira Campos (UFES)

Resumo: Este simpósio temático tem como objetivo correlacionar a perspectiva analítica propiciada pelo conceito de cultura jurídica para abordar o campo de formação política no Brasil com a constituição de suas bases institucionais desde sua Independência. Neste sentido, será nosso objetivo debater o período pré e pós-formação do Estado nacional, os princípios de soberania, justiça, autonomias, corporações e espaços de poder instituídos num período de crise do Antigo Regime, do reformismo ilustrado e das novas codificações. A Independência trouxe consigo a difícil tarefa de organização do Estado nacional. No entanto, a elite brasileira, ao longo do processo de emancipação política, conservou, em grande medida a ordem institucional e administrativa portuguesa. Reiteraram em 1823 a vigência das leis portuguesas até a organização dos novos códigos ou alterações em dispositivos específicos. Desde o início das decisões legislativas dos novos parlamentares no Brasil, delineou-se a construção de uma monarquia constitucional e, ao mesmo tempo, a emergência de uma reforma institucional que desse conta de resolver aspectos relacionados às jurisdições de antigos órgãos da administração herdada e da construção e novos códigos. O novo parlamento, por sua vez, tentava cumprir a missão de traduzir os anseios de uma geração que havia se inspirado nas teorias iluministas, como as de Benthan e de Beccaria, para o ordenamento jurídico brasileiro. Isso deveria se refletir na criação das novas instituições e na composição da legislação nacional. Tal tarefa se revelou, desde o início, complexa e conflituosa, pois evidenciava as lutas que deviam ser travadas no campo político e ideológico por uma elite política e econômica que estava longe de possuir convergência em seus projetos. Mesmo assim, entre o primeiro reinado e o período regencial foi possível pactuar algumas mudanças importantes tanto no sentido de substituir antigas instituições, como trazer à cena os novos códigos civil e criminal, que por si estabeleceram importantes debates em torno da cultura jurídica nacional.

Referências:
CAMPOS, Adriana. Nas barras dos tribunais: Escravidão e Direito na Província do Espírito Santo, 1850-1871. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Espírito Santo. 2003
CARVALHO, J. M. A construção da ordem: a elite política imperial/ Teatro de sombras: a política imperial. Rio de Janeiro: Editora UFRJ/Relume Dumará, 1996.
CHAVES, Cláudia. “A administração fazendária na América portuguesa: a Junta da Real Fazenda e a política fiscal ultramarina nas Minas Gerais”. Almanack, São Paulo, n. 05, 2013.
CHIARAMONTE, José Carlos (ed.). Pensamiento de la ilustración iberoamericana, siglo XVIII. Caracas. Biblioteca Ayacucho.1979.
CLAVERO, Bartolomé.“Gracia y derecho entre localización, recepción y globalización (lectura coral de Las Vísperas Constitucionales de António Hespanha)”. Quaderni fiorentini per la storia del pensiero giuridico moderno, 41: 675-763. 
______. Happy Constitution. Cultura y lengua constitucionales. Madri. Trotta.1997.
GARRIGA, C. & SLEMIAN, A.“‘Em trajes brasileiros’: justiça e constituição na América ibérica (c.1750-1850)”. Revista de História. São Paulo, n. 169, julho-dezembro 2013, pp. 181-221. 2013.
GRANDON, J. B. La cultura jurídica en la Nueva España. Universidad Nacional Autonoma de Mexico, 1993.
HESPANHA, A. M. Panorama histórico da cultura jurídica europeia. Publicações da Europa-América, 1997. 
JANCSÓ, István (Org.). Brasil: formação do Estado e da nação. São Paulo: Hucitec; Fapesp / Ijuí: Unijuí, 2003.
KRYNEN, J. L´idéologie de la magistrature ancienne. Paris. Gallimard. 2009.
PAQUETTE, G (ed.). Enlightened Reform in Southern Europe and its Atlantic Colonies, c. 1750-1830. Farnham-Burlington. Ashgate. 2009.
SLEMIAN, A. Sob o império das leis: constituição e unidade nacional na formação do Brasil (1822-1834). São Paulo. Hucitec/Fapesp. 2009
WOLKMER, A. C. Humanismo e Cultura Juridica no Brasil. Fundação Boiteux, 2003.

 

ST07 – Doenças e epidemias no Brasil Império

Coordenador: Sebastião Pimentel Franco (UFES)

Resumo: Os estudos sobre as doenças e os surtos epidêmicos nas sociedades começam a tornar-se alvo da atenção dos historiadores a partir do fim da década de 1950 e início de 1960, principalmente na Inglaterra e na França, países ligados aos pesquisadores de História do Medievo. Desde então, as doenças e os surtos epidêmicos passaram a ser estudados de forma mais ampla e mais intensa, para além de uma perspectiva meramente médica ou biológica, tornando-se, a um mesmo tempo, objeto e ferramentas de abordagens econômicas, culturais, políticas, psicológicas, demográficas e sociais. Nas décadas de 1970 e 1980, uma nova forma de se fazer História que valorizava a experiência pessoal e coletiva das massas anônimas, foi apropriada pelos estudiosos em saúde e doença que, ao pesquisar as epidemias, por exemplo, buscaram enxergá-las pela ótica ou visão do doente. Foi graças ao diálogo efetuado pelos historiadores com outras disciplinas das Ciências Humanas e Sociais, como a Antropologia, a Sociologia, a Filosofia e a Psicologia, que surgiram novas possibilidades de interesse das pesquisas históricas em termos de objetos, a saber: a doença e o cotidiano. No caso da própria História da Medicina, é possível verificar uma grande inovação a partir da busca dos estudiosos em tematizar a histórias das instituições médicas, a reprodução dos saberes médicos, as controvérsias teóricas, os conflitos com outros campos de conhecimento e com outras profissões da área da saúde, as disputas com outras práticas de cura, a profissionalização, as relações com o governo e as imbricações com a política. As doenças epidêmicas, sabemos hoje, alteraram a vida cotidiana das populações, provocam sobressaltos, inquietação social e, consequentemente, revoltas. Os surtos epidêmicos repercutiram sobre a história política, administrativa ou médica, provocaram consequências, impactos e alterações nos padrões de comportamento, possibilitando a implementação de reformas administrativas e sanitária. Este simpósio se dedica, portanto, as investigações sobre a História das Doenças e Epidemias com enfoque no Brasil e no longo século XIX. Pretende-se, dessa forma, contemplar pesquisas que se dedicam às discussões sobre a gênese dos surtos epidêmicos e os caminhos percorridos pela doença; as representações em torno das epidemias; as atitudes e respostas da população local em face às moléstias; a implementação de políticas públicas; bem como os saberes médicos e populares em torno do fenômeno.

Referências:
BELTRÃO, Jane Felipe. Cólera, o flagelo da Belém do Grão-Pará. Tese (Doutorado em História) - Programa de Pós-Graduação em História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1999.
CHALLOUB, Sidney. Cidade febril: cortiços e epidemias na Corte imperial. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1996.
DAVID, Onildo Reis. O inimigo invisível: epidemia na Bahia no século XIX. Salvador: Ufba, 1996.
EVANS, Richard. Epidemias and revolution: cholera in nineteenth century. Europ. Manchester: Part&Presente, 1988.
FRANCO, Sebastião Pimentel; NASCIMENTO, Dilene Raimundo do; SILVEIRA, Anny Jacqueline Torres (Org.). Uma história brasileira das doenças. Belo Horizonte: Fino Traço, v.1-6.
LE GOFF, Jacques. As Doenças têm História. Lisboa: Terramar, 1985.
MONTEIRO Y. N. Da maldição divina à exclusão social: um estudo da hanseníase em São Paulo. Tese (Doutorado em História) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1995.
NASCIMENTO, Dilene Raimundo do. As pestes do século XX: Tuberculose e aids no Brasil, uma história comparada. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005.
TRONCA, Ítalo. As máscaras do medo: lepra e aids. Campinas: Ed. Unicamp, 2000.
WITTER, Nikelem Acosta. Males e epidemias: sofredores, governantes e curadores no sul do Brasil (Rio Grande do Sul, século XIX). 2007. 276 f. Tese (Doutorado em História). Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal Fluminense, Niterói/RJ. 2007.
 

 

 

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